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Foto: Pablo Vergara |
Péssimas condições de trabalho estão
provocando desistências massivas, diz sindicato
03/09/2014
por Fania Rodrigues,
do Rio de Janeiro
(RJ)
Cerca de 500
professores saíram voluntariamente da rede estadual de educação do Rio de
Janeiro, somente no mês de agosto, segundo informações do Sindicato Estadual
dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ). O número foi contabilizado através do
acompanhamento das publicações do Diário Oficial. “Isso é escandaloso. Foi o
mês do ano que mais professores deixaram a rede pública. Talvez essa seja a
maior quantidade de saída voluntária de professores da história da democracia”,
destaca o professor Omar Costa, um dos responsáveis por computar os números.
As razões para a
saída dos professores são muitas. A precariedade nas condições de trabalho, os
baixos salários, situação de violência dentro das escolas e no seu entorno, a
longa jornada de trabalho e autoritarismo por parte da direção são algumas das
causas. Todos esses fatores estão levando os profissionais da educação a sérios
problemas de saúde, causando estresse emocional e muitas vezes a depressão.
“Temos um grave
quadro de estresse emocional entre os docentes. Há 15 anos o Sepe-RJ realizou
uma pesquisa em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Naquela
oportunidade, a pesquisa identificou que 48,4% da categoria no ensino
fundamental e médio já apresentavam síndrome de burnout,
que nada mais é que o estresse emocional agravado e que se não tratado pode
levar à loucura”, revelou a professora Gesa Linhares Correa, coordenadora geral
do Sepe-RJ. Segundo ela, a pesquisa não foi atualizada porque o governo do
estado se nega a fornecer os dados necessários, mas de lá para cá a situação
piorou e, portando, a estimativa é que o número de professores com transtorno
psicológico tenha aumentado.
A sindicalista também
chama a atenção para os efeitos das péssimas condições de trabalho nas escolas
públicas. “Merendeiras, serventes, professores e demais profissionais da escola
são vítimas de doenças profissionais como LER (lesões por efeitos repetitivos),
sofrimentos psíquicos, problemas cardiovasculares, alergias diversas, dentre
outras”, informa Gesa Correa.
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Condições de trabalho precárias causam problemas de saúde aos profissionais
Foto: Pablo Vergara
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Professora denuncia situação de violência
emocional
Andrea Viera,
professora do Ciep 200, em Nova Iguaçu, é uma das centenas de profissionais da
educação a sofrer de depressão. “Estou de licença médica, fazendo terapia três
vezes por semana. O baixo salário nos obrigada a trabalhar em mais de uma
escola, e a uma sobrecarga de problemas e estresse. Com as salas de aulas
lotadas temos menos controle sobre a bagunça e a desordem dos alunos. Além de
tudo, eu vinha sofrendo assédio moral cometido pelo diretor da escola, que por
mais de uma vez invadiu minha sala de aula me desautorizando e desrespeitou na
frente dos alunos. Foi indo e colapsei”.
A professora informou
que está pensando seriamente em deixar a rede pública estadual. “Estou ficando
doente e várias amigas minhas professoras também estão querendo sair. As
condições e a pressão já eram muito ruins e piorou depois da greve do ano
passado”, disse. “O governador Pezão está descumprindo o acordo feito com o
Sepe e a liminar da Justiça que estipula o pagamento dos salários atrasados dos
professores grevistas”, acrescentou.
Outro ponto criticado
por Andrea é a presença de policiais militares nas escolas. “Agora eles também
entram nas salas e dão aulas de comportamento. E o mais absurdo é que os PMs
que agrediram professores durante a greve agora estão nas escolas. Aquele
professor que apanhou na passeata agora tem que conviver com o seu algozes
todos os dias. Quem aguenta uma coisa dessa?”, questiona a professora.
Fonte:http://www.brasildefato.com.br/