De
acordo com professores consultados, fuga ao tema e períodos
muito longos estão na lista dos deslizes na escrita da dissertação
Para escrever uma redação nota 1.000
no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o candidato deve estar bem treinado
nas cinco competências avaliadas durante a correção do texto.
Na primeira delas, a banca avaliadora irá conferir o domínio da norma padrão da
língua escrita. De acordo com os professores, é nessa habilidade que se
concentra a maioria dos erros dos candidatos: ortografia, acentuação e uso de
expressões da língua falada são os principais deslizes que derrubam a nota.
Além de
domínio da norma culta, o estudante precisa ainda compreender a proposta do
texto dissertativo, defender um ponto de vista com bons argumentos, demonstrar
conhecimento dos mecanismos linguísticos e elaborar uma proposta de intervenção
para o problema abordado na prova.
A pedido do
site do blog, professores de cursinhos listaram as falhas mais comuns dos
estudantes na hora de produzir a dissertação. Os erros vão desde fuga do tema -
que resulta em um zero na redação - até uso de abreviações da internet.
Confira
os 12 principais erros cometidos pelos participantes e saiba como escapar
deles:
Os erros mais cometidos na redação do Enem
1- Fuga ao tema
A proposta de redação no Enem tem um tema dado pelo enunciado e três
textos de apoio relacionados ao assunto. Suponha que o tema apresentado pelo
exame seja "ações dos governos para combater a crise hídrica". O
candidato, então, escreve um texto apresentando boas informações sobre a
questão da escassez de água (dados geográficos e informações sobre o
abastecimento), mas não fala nada sobre as ações de governo. A nota é zero.
Falar
apenas sobre um aspecto do assunto em vez de abordar todo o tema acontece porque
o aluno não dá a devida atenção à proposta de redação e aos textos motivadores
– ambos muito importantes. “Normalmente a redação do Enem traz três textos de
apoio, é preciso primeiro ler e considerar todos os textos para, só assim,
escrever a redação”, diz Aníbal Telles, professor de redação no cursinho Anglo.
“Isso acontece, muitas vezes, quando o candidato se identifica ou conhece um
dos textos. Ele se empolga e se esquece de relacionar todos os textos de
apoio”, completa Telles.
2- Ambiguidade
A ambiguidade é resultado
de textos mal elaborados. Ela surge quando uma mesma frase possui sentidos
diferentes, contrários até, confundindo a interpretação e a intenção do autor.
Exemplo com ambiguidade:
“Houve discussão sobre o tráfico de drogas no Senado”
Na avaliação dos
professores, há no exemplo acima uma ambiguidade gravíssima. A frase não deixa
claro se o Senado discute a questão do tráfico de drogas — onde quer que ele
ocorra —, ou se o que está em debate é o tráfico ocorrido no interior da Casa
legislativa. Se a intenção é dizer que o Senado discutiu a questão do tráfico
no Brasil, a frase poderia ser escrita como no exemplo a seguir: “Em uma sessão
do Senado, houve uma discussão sobre o tráfico de maconha.”
"A orientação é que o
candidato seja bem específico no que escreve e se certifique de que as frases
expressam exatamente o que ele está pensando. Para isso, deve ler e reler as
sentenças, imaginando todas as possíveis interpretações", afirma Aníbal
Telles, professor de redação no cursinho Anglo.
3- Períodos muito longos
Frases longas podem ser um
problema para a coesão do texto. Uma frase comprida tem em média mais de 25
palavras. Quanto mais longas, maior a chance de erros. “O uso de conectivos
inapropriados pode prejudicar o entendimento do texto. Além disso, as frases
longas prejudicam a compreensão e dão chance a problemas de concordância”, diz
Lilio Paoliello, diretor pedagógico do Cursinho da Poli.
Confira um exemplo de
frase longa com erro:
"Um homem costumava
escrever para seus pais, que moravam no interior do país, e contar sobre suas
aventuras na capital e também em outras cidades espalhadas pelo continente e
pelo mundo, sempre escondendo nas cartas problemas que têm no dia
a dia."
Nesse caso, o sujeito é
"o homem". É ele quem escrevia e contava as aventuras. É ele também
quem escondia os problemas. Logo, está errado o trecho "... problemas que têm no dia a dia." Isso seria correto
se o sujeito fossem os pais, já que o verbo “ter” está no plural.
A sugestão é preferir
frases curtas ou médias com, no máximo, 15 a 20 palavras. O exemplo com frases
mais curtas eliminaria o erro:
"Um homem costumava
escrever para seus pais, que moravam no interior do país. Nos textos, contava
sobre suas aventuras na capital e também em outras cidades espalhadas pelo
continente e pelo mundo. Ele sempre escondia, porém, os problemas do dia a
dia."
4- Generalização e terceirização de problemas
Uma das cinco competências da
redação do Enem exige que o candidato elabore uma proposta de intervenção ao
tema proposto. “É preciso evitar argumentos que convoquem terceiros a lutar
pela causa. A ideia do Enem é que o aluno pense detalhadamente em uma proposta
de intervenção considerando as próprias ações”, diz Aníbal Telles, professor de
redação no cursinho Anglo.
Exemplo: “Vamos todos
corrigir o grave problema da violência contra a mulher”.
Nesse caso, o aluno deverá
detalhar como isso pode ser feito, sugerindo, por exemplo, programas sociais
nas escolas públicas. O mesmo vale para generalizações. É o caso de afirmações
como "as pessoas não se preocupam com o meio ambiente". O candidato
não pode garantir que todas as pessoas não se preocupam com o meio ambiente – a
afirmação se torna, assim, imprecisa.
Além disso, palavras como
“todos”, “nunca”, “jamais”, “único” e "sempre" devem ser evitadas,
pois ajudam a construir generalizações indevidas.
5- Escrever em primeira pessoa do singular
No texto
dissertativo-argumentativo é necessário escrever na terceira pessoa do
singular. Termos como “na minha opinião”, “eu acho”, “eu penso” e “no meu ponto
de vista” fogem da impessoalidade do texto proposto.
Exemplo com erro:
“Eu acho que a terra é redonda”
O pronome "eu", da primeira pessoa do singular,
transmite uma opinião, o que foge da proposta dissertativa. O correto seria:
“A terra é redonda."
Além de ter o tom impessoal, a sentença também demonstra mais
objetividade e força.
6- Expressões
típicas da língua falada e gírias
A primeira competência da redação do Enem
avalia a capacidade dos candidatos em demonstrar domínio da modalidade escrita
formal da língua portuguesa. Isso exige, portanto, escrever dentro dos padrões
da norma culta. Por isso, o candidato deve evitar expressões típicas da língua
falada, registros da oralidade e gírias como “né”, “daí”, “tipo assim”, “tá
ligado”. Prefira marcadores da língua padrão: “após esse instante”, “depois
disso”, “além disso”.
A gíria pode ser usada, mas o estudante precisa deixar claro que
sabe que se trata de um termo típico da língua falada. “Se forem aplicadas para
exemplificar algo, colocadas entre aspas, pode valer a pena. Já os vícios da
escrita informal e da escrita em meios digitais devem ser evitados”, disse
Lilio Paoliello, diretor pedagógico do Cursinho da Poli.
Além disso, também é preciso evitar o uso de abreviações da
internet, como “vc”, “tb”, “cmg”, “pq”, “pra”. Prefira “você”, “também”,
“comigo”, “porque”, “para”.
7- Erros ortográficos
Os erros
ortográficos são o mais comum nas redações. “Os equívocos podem ser evitados
com muita leitura e com atenção para os recursos utilizados pelos autores e
para a forma e tom com que escrevem”, afirma Lilio Paoliello, diretor
pedagógico do Cursinho da Poli.
Erros ortográficos mais comuns: concientização (errado) no lugar
de conscientização (certo); pretencioso (errado) em vez de pretensioso (certo);
compreenssão (errado) em vez de compreensão (certo).
8- Uso incorreto das palavras "mal" e "mau"
Outro erro comum é a confusão na escolha das palavras “mau” e
“mal”. Mau é um adjetivo, ou seja, qualifica um substantivo, como ocorre em
“menino mau”. Já “mal” pode assumir a função de substantivo ou advérbio, ou
seja, qualifica um verbo ou adjetivo.
Para facilitar, os professores aconselham uma antigaorientação:
nas frases, substitua as palavras por seus antônimos: “bom” em lugar de “mau” e
“bem” em lugar de “mal”.
Exemplos: “Fernanda anda mal de bicicleta.” >> substitua por
>> “Fernanda anda bem de bicicleta.” “João é um mau exem lo.” >>
substitua >> “João é um bom exemplo.”
9- Falta de progressão textual
As ideias do texto devem fluir da maneira mais compreensível e
natural possível. Antes de iniciar a redação, organize um roteiro com suas
ideias sobre o tema e a ordem em que serão apresentadas. “Normalmente o texto
dissertativo argumentativo é divido em três grandes blocos, começando pela
introdução, depois desenvolvimento do texto e por fim a conclusão”, diz Lilio
Paoliello, diretor pedagógico do Cursinho da Poli.
Para evitar erros nessa questão, os professores sugerem o uso de
marcadores de conexão, que ajudam a dar ritmo e progressão ao texto. Os
conectivos são conjunções que ligam as orações e ajudam a estabelecer a ligação
entre as orações.
Conectivos como: “contudo”; “entretanto”; “porém”; “todavia”; “no
entanto”; “embora”; “ainda”; “uma vez que”, são grandes aliados para contribuir para a progressão
textual.
10- Não use palavras que não façam parte de seu vocabulário
A vontade de demonstrar domínio da norma culta pode levar
candidatos a empregar termos sofisticados e incomuns de maneira equivocada.
“Quando não tiver certeza do emprego deste ou daquele termo, seja pela grafia
ou pela pertinência gramatical, troque-o por outro que dê o mesmo sentido à
ideia que deseja desenvolver”, afirma Lilio Paoliello, diretor pedagógico do
Cursinho da Poli. “Essa habilidade só se consegue com muita escrita, erros e
acertos.” Um dos erros mais comuns está no uso de "adentrar" no lugar
de "entrar”. Porém, é preciso lembrar que "adentrar" é um verbo
transitivo direto e, por isso, pede objeto direto (sem preposição). Exemplo:
"A mãe entrou na casa." (certo)
"A mãe adentrou nacasa." (errado) Para
não correr o risco de errar a orientação é uma só: não precisa falar difícil, é
preferível escolher palavras e construções simples e prezar pela clareza do texto.
11- Crase
Os erros de
acentuação gráfica normalmente acontecem por dois motivos: desconhecimento das
normas ortográficas e gramaticais ou desconhecimento da posição correta da
sílaba tônica. Nas redações, é possível destacar erros comuns em relação ao uso
da crase.
A orientação é olhar para a palavra que segue o uso do
"a" do com crase: se for masculina, um verbo ou pronomes como
"você, "ele", "ela" não tem o acento tônico. Haverá
crase sempre que o termo antecedente exija a preposição e o termo consequente
aceite o artigo a.
12- Uso
incorreto do pronome relativo "onde"
Os pronomes relativos substituem um termo da oração anterior e
estabelecem relação entre duas orações. Porém, como o pronome relativo
"onde" entra na classe de pronomes relativos invariáveis como
"que" e "quem", muitos candidatos erram no uso do pronome
como conjunção. Por exemplo:
“A palestra apresentou muitas ideias, onde nós aprendemos muito”.
(errado)
O pronome relativo “onde” só deve ser usado como referência para
lugares. A melhor opção nesses casos é substituir a palavra por conjunções
como: “no qual” “na qual” e “em que”, por exemplo.
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