LOUVORES

sábado, 22 de junho de 2013

Com manifestações, estudantes retomam papel de liderança em grandes mobilizações sociais

Protestos registrados em SP e em outras cidades representam uma retomada de protagonismo nas lutas populares

séEduardo Enomoto/ R7
Seis manifestações realizadas em São Paulo representa a retomada do estudantes em manifestações


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As seis manifestações realizadas até agora em São Paulo, e que se espalharam pelo Brasil, revelam uma retomada dos estudantes às movimentações sociais, na opinião de especialistas. Iniciados a partir da decisão da Prefeitura de São Paulo de aumentar a tarifa do ônibus de R$ 3 para R$ 3,20, inicialmente impulsionados pelo MPL (Movimento Passe Livre), e disseminados pelo País com solicitações contra o valor das passagens praticado no transporte público, movimentos estudantis estão nas ruas, mais uma vez no papel de protagonistas de grandes mobilizações. 

A coordenadora de ciências sociais da Universidade Metodista, Luci Praun, afirma não ter dúvida que as manifestações representam uma retomada da liderança estudantil aos movimentos sociais, além de contar ainda com o apoio de boa parte da sociedade. 

— É uma retomada [do movimento estudantil na liderança das manifestações populares]. Eu não tenho a menor dúvida disso. 

Para ela, ainda que a luta iniciada pelos estudantes nas manifestações recentes bastante difusa, a reivindicação contra o aumento da passagem de ônibus é, na visão de Luci, um pretexto, “algo que catalisou um descontentamento muito profundo” e não representa um descontentamento apenas da juventude pelo fato de encontrar apoio de boa parte da sociedade. 

— A luta do Movimento Passe Livre trouxe outras questões. Os protestos pela redução da passagem de ônibus foram um “pretexto” e catalisaram um descontentamento profundo que estava vivo na sociedade e se espalhou rapidamente no País. 

De acordo com o professor de ciências políticas da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Antônio Carlos Mazzeo, o movimento estudantil sempre esteve presente, mas há “uma nova qualidade” nas manifestações atuais em comparação ao período da ditadura no Brasil. 

— No atual contexto das movimentações, os estudantes possuem um núcleo forte e também são trabalhadores que expressam uma insatisfação existente na sociedade brasileira. Isso é comprovado pelos cartazes usados. Na ditadura, os estudantes iam às ruas e não sabiam se voltavam para a casa. 

Segundo Mazzeo, a participação dos estudantes expressa uma vontade de não aceitar mais passivamente o que lhe parecer imposto de cima para baixo, e toma as ruas como um recado ao governo. 

— O que pessoas querem dizer nas ruas aos governantes: Vocês podem fazer o que quiserem, mas nós vamos aceitar ou não. Se não aceitarmos, nós vamos para as ruas fazer manifestação contra o que vocês estão impondo. 

Pelo mundo



Egito, Síria, Grécia, Turquia, Espanha e Portugal e Estados Unidos, com as recentes séries de Ocuppy pelas grandes cidades, compõem uma lista crescente de países que assistem, desde 2010, manifestações populares. As características compartilhadas pelas movimentações incluem a utilização maciça das redes sociais, a cobertura direta viabilizada pelas novas ferramentas tecnológicas, as razões aparentemente pouco relevantes e cotidianas como estopim, além da violência por parte da repressão policial. 

Para Luci, o interessante da retomada de protestos, além do fato de que muitas mobilizações sociais estão acontecendo simultaneamente em outros países, está também no público que está nas ruas das principais capitais do Brasil, parecido com o encontrado em manifestações em outras partes do mundo. 

— Estamos vendo acontecer e o perfil dos participantes é muito parecido: a camada jovem, que vem sendo extremamente prejudicada por uma série de medidas, como se inserir no mercado de trabalho, empregosprecários, e alguns entram em universidades sem condições de se manter. Enfim, é uma série de problemas que atinge a juventude do mundo e cada país expressa da sua forma e de acordo com o contexto de cada um. 

Mazzeo não compartilha da ideia de que a inclusão de outras reivindicações sociais nas manifestações que tiveram, como gatilho, a movimentação contra o aumento da tarifa do transporte público, enfraquece a proposta do MPL. 

— Acho que [a inclusão de outras reivindicações] não enfraquecerá o Passe Livre. É um elemento novo e tem um foco que é a questão das passagens. Porém, está claro que a política desse movimento tem que se dar passo a passo, porque engloba não só a redução da tarifa, mas também a qualidade do transporte público e a política adotada pelos governantes. 

Redução da passagem 

Frederico Alexandre Hecker, professor de ciências políticas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita que a redução da tarifa demonstra a força do Movimento Passe Livre e a oportunidade de dar continuidade em outras causas relacionadas ao transporte público de São Paulo. 

— Evidentemente a redução da taxa significa que o MPL tem força. As reivindicações do movimento não era apenas a redução da tarifa, mas sim por reorganizar e criar uma nova estrutura dos transportes na capital. 
Hecker ainda acrescenta que “seria muito bom se tivesse uma institucionalização do MPL.” Porém, caso se torne uma organização, participantes das manifestações que não fazem parte do movimento podem perder o contato com os militantes. 

— Os movimentos são diferentes de organizações, partidos e sindicatos, porque não há uma liderança hierárquica e sistematizações. Mas por outro lado tem sempre um perigo porque, organizando uma cúpula, pode haver a perda de contato com os participantes. 

Violência 

No sexto ato contra o aumento da tarifa de ônibus, na terça-feira (18), houve casos de tumulto, vandalismo, depredações e saque na região central de São Paulo. Durante a tentativa de invasão ao prédio da prefeitura, parte dos manifestantes derrubou a grade de acesso para invadir o local. Outros participantes tentavam impedir a invasão e que objetos fossem lançados. 

Para Hecker, não é possível fazer a divisão dos manifestantes entre moderados e radicais de forma tão nítida. Pela ineficiência do Estado, há uma preferência dos participantes atacarem lugares em que estão os governantes que têm o poder de mudança. 

— Em um movimento com milhares de pessoas nas ruas, há alguns com menos limites de conduta, ou talvez, são mais explorados pelo Estado que é injusto e ineficiente. Muitos não têm perspectiva de emprego, educação e possibilidade de estudar. Existe uma lógica na ação dos indivíduos que fazem parte desse conjunto. O que eles atacaram? Em São Paulo e Belo Horizonte a prefeitura, em Brasília o Congresso Nacional, no Rio de Janeiro, a assembleia legislativa... Há uma preferência em atacar locais que reúnem os agentes do governo. 

Hecker ressalta que não há lógica em algumas ações, como invadir patrimônios históricos e saquear lojas. Mas, para ele, tais ações não são muito diferentes do que acontece no dia-a-dia das grandes cidades. 

— No momento que a sociedade vive, já há muita violência no cotidiano das pessoas.


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