Caros
companheiros (as)
Devemos
nos orgulhar de nossa última manifestação do dia 21 de maio. Foi
uma demonstração de amadurecimento da categoria ao perceber, em
uníssono, as manobras ardilosas deste governo Aluízio/Lúcia Thomaz
e seus deboches descarados na nossa frente, bradando juntos o grito
de “GREVE!” enquanto o prefeito saía com o rabo entre as pernas
da reunião. Amadurecimento este que inevitavelmente remonta aos
primeiros sopros deste movimento, ao qual tenho o orgulho e a honra
de ter ajudado a construir, lá em 2011, ainda no governo
Mussi/Garcia. Desde 2011 esta categoria vem se mexendo e se
movimentando para reivindicar uma educação melhor para o município,
um dos mais ricos do Estado. E neste processo, esta categoria, que de
certa forma não estava acostumada a paralisações, a manifestações
e movimentos políticos, foi aprendendo a caminhar neste terreno
novo, entre erros e acertos, se construindo em um processo contínuo
de autoconhecimento. E é sobre isto que venho escrever…
Este
processo não deve parar nunca. É analisando os nossos erros que nos
fortalecemos na luta contra aqueles que querem uma educação cada
vez mais privatista, mais a serviço da lógica mercantil, mais
desmontada. A defesa da educação pública e de qualidade é nossa
maior bandeira e é prerrogativa desta defesa a nossa autoavaliação.
Gostaria de humildemente contribuir com esta discussão, abrindo-me
para o debate e a discussão de outros companheiros que o queiram
fazer.
Apesar
do sucesso da nossa última manifestação, algumas questões me
chamaram a atenção que apontam para falhas no movimento, tanto de
caráter pragmático quanto de caráter estratégico e
que levarão a um enfraquecimento se não forem solucionadas.
1- O RESPEITO AO OUTRO
Ficou
muito claro o grau de insatisfação dos educadores macaenses com a
situação da educação municipal. As falas acaloradas e até as
discussões mais “pegadas” deram o tom da manifestação. E isto
é normal. Somos um grupo com diferentes visões sobre o que deve ser
feito. Entretanto, ficou também claro, talvez na sanha de ter suas
reivindicações atendidas, o grau de desrespeito que alguns
companheiros tiveram com as falas de outros. Muitos companheiros,
infelizmente, ao discordarem dos que falavam no microfone,
atropelavam as falas e, aos gritos até, interrompiam os que
discursavam, agitavam o resto do grupo e assim o processo se
prejudicava. É muito importante que
todos entendam a importância de garantir a fala de todos, mas de
forma organizada e ordeira. Faz
parte do amadurecimento da categoria entender que respeitar a fala e
a intervenção de todos é uma forma de garantir o bom funcionamento
e a coesão de nosso movimento. O respeito ao outro enquanto ele fala
é uma forma de crítica a um governo que não nos respeita, não nos
ouve, e muito menos nos deixa falar. Se atropelamos uns aos outros
demonstramos não só que não estamos organizados, mas que somos
autoritários, que somos individualistas, que não pensamos como um
grupo, enfim, que não somos um movimento coeso. E, tenham certeza
disso, o governo utilizará isto como arma para atacar-nos.
2- O RESPEITO AS DECISÕES DA ASSEMBLEIA
Outra
coisa que ficou clara é que alguns companheiros ainda não
entenderam o que significa a Assembleia dos Educadores. Isto ficou
claro, particularmente, em três casos: quando a companheira
governista da direção do SEPE colocou em votação a decisão de
entrar na Prefeitura ou ficar na rua, enquanto parte da categoria não
estava presente; quando companheiros, durante a reunião tomaram a
palavra na reunião com o prefeito, tendo a assembleia decidido que
somente a direção do SEPE negociaria (o que fez com que a reunião
se arrastasse levando parte da categoria a abandonar a reunião); e
quando alguns companheiros, de forma isolada, decidiram por si só e
de forma autoritária, fechar a outra pista na rua, inclusive se
recusando a abri-la depois de votação feita por todos. Isto é
muito grave!
A
votação coletiva é o maior instrumento democrático e o maior
exemplo que temos para dar a todos que nos observam (sim, porque
estamos sendo observados por toda a sociedade). Ora, como vamos
exigir democracia de um governo que é autoritário, se dentro de
nosso movimento o autoritarismo ainda acontece por conta da atitude
individual, ou melhor, anticoletiva de alguns. É preciso que todos
compreendam o quão prejudicial isto é para nosso movimento. A
atitude isolada de alguns fazem cair por terra a decisão de todos!
A
assembleia é a autoridade máxima do movimento. Ela se sobrepõe a
qualquer atitude de qualquer um: inclusive da própria direção do
SEPE. E mesmo que tenhamos sido derrotados em nossas propostas, mesmo
que tenhamos nossas certezas, devemos obedecer e acatar a decisão do
coletivo, porque ele é quem decide. Caso contrário, não seríamos
um movimento, mas um conjunto de indivíduos, cada um querendo alguma
coisa. Qualquer um que tome decisão
por si só, ignorando o coletivo, o enfraquece e, assim, também
enfraquece a si mesmo, na medida em que se isola. Se somos a soma de
nossas forças individuais, agir sozinho é no mínimo
contraproducente, pra não dizer burrice.
Portanto,
faz parte deste amadurecimento da categoria entender que o que o
coletivo decide é o que deve ser seguido, e que o espaço está
aberto para questionamentos, mas não para atropelar autoritariamente
o que todos democraticamente decidiram.
3- A ASSEMBLEIA É SIM LUGAR DE DISCUTIR POLÍTICA
Talvez
alguns companheiros que chegam na militância agora não tenham a
real noção do que esta afirmação significa, se considerada na sua
repercussão histórica. Consideremos, por exemplo, a própria
construção histórica do Sindicato Estadual dos Profissionais da
Educação, o SEPE. A luta pela construção deste sindicato remonta
às tentativas de controle político do governo Vargas. Criado em
1977 (ainda sobre o nome de SEP), em plena ditadura militar, a
trajetória da construção deste sindicato passa por perseguição
política, companheiros torturados e mortos, construção de
ideologias de oposição… Ou seja, é uma trajetória
essencialmente política. Ora, o sindicato é justamente a instância
em que o trabalhador se coloca em coletividade para ter força
suficiente para lutar contra um governo QUE É POLÍTICO, que tem
bases partidárias e que tem ideologias próprias. Porque então o
sindicato, ou o movimento não o teriam? Como
conseguir lutar contra as políticas governistas sem discutir
política? É preciso que a
categoria entenda e compreenda, de forma profunda, que quando o
governo Aluízio/Lúcia Thomaz negam todos os pontos da nossa pauta
de reivindicações, não o fazem por eles, mas porque a atitude
acintosa deste governo faz parte de um contexto dentro de uma
política maior, que se interliga a ações políticas também
orquestradas pelo governo Cabral-Pezão/Risolia, e que por sua vez se
interligam a ações do governo Dilma. Ou seja, a política
educacional macaense está diretamente relacionada com as políticas
estadual e federal, da aliança PT/PMDB.
Portanto,
se queremos questionar o que acontece em Macaé, temos que considerar
questões partidárias e políticos, filiações partidárias de
apoio e de crítica ao governo dentro do sindicato e fora dele.
Para
amadurecer como movimento é necessário que a categoria entenda que,
assim, a assembleia é um espaço político, de discussão política
sim! E que só assim é que andaremos pra frente: quando entendermos
que o movimento é plural, com amplo direito a discussão política e
com companheiros que defendem diferentes bandeiras. É de suma
importância que defendamos e incentivemos esta discussão, sob pena
de nos transformarmos em um movimento burocrático, que esquece as
transformações estruturais para a educação, as que realmente
transformam.
4- PENSAR ESTRATEGICAMENTE É FUNÇÃO DE TODOS
Quando
estas falhas ficaram evidentes na manifestação, alguns companheiros
tomaram o microfone para defender que o SEPE não havia elaborado uma
estratégia para o dia. E é verdade. Faltou planejamento estratégico
e esta é uma questão que o sindicato precisa urgentemente sanar, já
para a próxima manifestação. É necessário que a direção
convoque as lideranças e as vanguardas do movimento para discutir as
ações conjunturais e estruturais do movimento, algo que ainda não
foi feito. Porém, é tão necessário que a categoria entenda que
esta não é uma função exclusiva do SEPE. Que
pensar estrategicamente é um dever de todos do movimento.
Ao nos dividirmos e brigarmos na frente da prefeitura, justo o lugar
que deveríamos estar coesos e nos defender a todo custo,
demonstramos para o governo nossa fragilidade ao racharmos o
movimento, racha este inclusive promovido pela companheira governista
do sindicato. Ao racharmos estamos negando a estratégia. Ao nos
negarmos a acatar o que o coletivo decidiu estamos negando a
estratégia. Ao atropelarmos as falas estamos negando a estratégia.
Ao agirmos impulsivamente estamos negando a estratégia!
Enfim,
é extremamente necessário que todos entendam que estratégia está
diretamente ligada a coesão. E que no caso de um movimento como o
nosso, ela é definida com a coletividade. A maior estratégia,
portanto, é o respeito ao coletivo. Isto é, também, amadurecer o
movimento.
5- SOMOS UM SÓ
Para
concluir, advém de todas as observações acima que só somos fortes
se somos um só. Isto não que dizer, de forma alguma, que devemos
excluir as diferenças políticas do movimento (como já dito), mas
efetivamente o contrário: entendê-las e respeitá-las em favor de
uma unidade.
E
o que será isto que nos une? Somos todos educadores e cada um a seu
jeito quer o mesmo: uma educação melhor para Macaé. Para isto que
nos unimos. Porque sozinhos somos um
grito, juntos somos um brado. Juntos todos temos mais força, juntos
somos gigantes. E só assim que podemos derrotar este governo que
quer sucatear a educação macaense.
***
Companheiros,
peço desculpas pelo longo texto. Mas espero que com ele possa
contribuir para as discussões sobre o nosso movimento e sobre a
construção da Greve que a categoria anseia; para que este movimento
se fortaleça; e para que juntos, sempre juntos, possamos crescer e
amadurecer.
Não devemos esmorecer agora. O governo contra-atacará. E devemos continuar juntos, rumo a Greve!
Não devemos esmorecer agora. O governo contra-atacará. E devemos continuar juntos, rumo a Greve!
A
todos, força e luta sempre!
Prof. Daniel Carvalho, em 22 de maio de 2014
Prof. Daniel Carvalho, em 22 de maio de 2014
Fonte: http://professoresdemacae.wordpress.com/
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