LOUVORES

terça-feira, 27 de maio de 2014

AOS PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS DA EDUCAÇÃO DE MACAÉ-RJ, É NECESSÁRIO AMADURECER O MOVIMENTO







Caros companheiros (as)
Devemos nos orgulhar de nossa última manifestação do dia 21 de maio. Foi uma demonstração de amadurecimento da categoria ao perceber, em uníssono, as manobras ardilosas deste governo Aluízio/Lúcia Thomaz e seus deboches descarados na nossa frente, bradando juntos o grito de “GREVE!” enquanto o prefeito saía com o rabo entre as pernas da reunião. Amadurecimento este que inevitavelmente remonta aos primeiros sopros deste movimento, ao qual tenho o orgulho e a honra de ter ajudado a construir, lá em 2011, ainda no governo Mussi/Garcia. Desde 2011 esta categoria vem se mexendo e se movimentando para reivindicar uma educação melhor para o município, um dos mais ricos do Estado. E neste processo, esta categoria, que de certa forma não estava acostumada a paralisações, a manifestações e movimentos políticos, foi aprendendo a caminhar neste terreno novo, entre erros e acertos, se construindo em um processo contínuo de autoconhecimento. E é sobre isto que venho escrever…
Este processo não deve parar nunca. É analisando os nossos erros que nos fortalecemos na luta contra aqueles que querem uma educação cada vez mais privatista, mais a serviço da lógica mercantil, mais desmontada. A defesa da educação pública e de qualidade é nossa maior bandeira e é prerrogativa desta defesa a nossa autoavaliação. Gostaria de humildemente contribuir com esta discussão, abrindo-me para o debate e a discussão de outros companheiros que o queiram fazer.
Apesar do sucesso da nossa última manifestação, algumas questões me chamaram a atenção que apontam para falhas no movimento, tanto de caráter pragmático quanto de caráter estratégico e que levarão a um enfraquecimento se não forem solucionadas.

1- O RESPEITO AO OUTRO

Ficou muito claro o grau de insatisfação dos educadores macaenses com a situação da educação municipal. As falas acaloradas e até as discussões mais “pegadas” deram o tom da manifestação. E isto é normal. Somos um grupo com diferentes visões sobre o que deve ser feito. Entretanto, ficou também claro, talvez na sanha de ter suas reivindicações atendidas, o grau de desrespeito que alguns companheiros tiveram com as falas de outros. Muitos companheiros, infelizmente, ao discordarem dos que falavam no microfone, atropelavam as falas e, aos gritos até, interrompiam os que discursavam, agitavam o resto do grupo e assim o processo se prejudicava. É muito importante que todos entendam a importância de garantir a fala de todos, mas de forma organizada e ordeira. Faz parte do amadurecimento da categoria entender que respeitar a fala e a intervenção de todos é uma forma de garantir o bom funcionamento e a coesão de nosso movimento. O respeito ao outro enquanto ele fala é uma forma de crítica a um governo que não nos respeita, não nos ouve, e muito menos nos deixa falar. Se atropelamos uns aos outros demonstramos não só que não estamos organizados, mas que somos autoritários, que somos individualistas, que não pensamos como um grupo, enfim, que não somos um movimento coeso. E, tenham certeza disso, o governo utilizará isto como arma para atacar-nos.

2- O RESPEITO AS DECISÕES DA ASSEMBLEIA

Outra coisa que ficou clara é que alguns companheiros ainda não entenderam o que significa a Assembleia dos Educadores. Isto ficou claro, particularmente, em três casos: quando a companheira governista da direção do SEPE colocou em votação a decisão de entrar na Prefeitura ou ficar na rua, enquanto parte da categoria não estava presente; quando companheiros, durante a reunião tomaram a palavra na reunião com o prefeito, tendo a assembleia decidido que somente a direção do SEPE negociaria (o que fez com que a reunião se arrastasse levando parte da categoria a abandonar a reunião); e quando alguns companheiros, de forma isolada, decidiram por si só e de forma autoritária, fechar a outra pista na rua, inclusive se recusando a abri-la depois de votação feita por todos. Isto é muito grave!
A votação coletiva é o maior instrumento democrático e o maior exemplo que temos para dar a todos que nos observam (sim, porque estamos sendo observados por toda a sociedade). Ora, como vamos exigir democracia de um governo que é autoritário, se dentro de nosso movimento o autoritarismo ainda acontece por conta da atitude individual, ou melhor, anticoletiva de alguns. É preciso que todos compreendam o quão prejudicial isto é para nosso movimento. A atitude isolada de alguns fazem cair por terra a decisão de todos!
A assembleia é a autoridade máxima do movimento. Ela se sobrepõe a qualquer atitude de qualquer um: inclusive da própria direção do SEPE. E mesmo que tenhamos sido derrotados em nossas propostas, mesmo que tenhamos nossas certezas, devemos obedecer e acatar a decisão do coletivo, porque ele é quem decide. Caso contrário, não seríamos um movimento, mas um conjunto de indivíduos, cada um querendo alguma coisa. Qualquer um que tome decisão por si só, ignorando o coletivo, o enfraquece e, assim, também enfraquece a si mesmo, na medida em que se isola. Se somos a soma de nossas forças individuais, agir sozinho é no mínimo contraproducente, pra não dizer burrice.
Portanto, faz parte deste amadurecimento da categoria entender que o que o coletivo decide é o que deve ser seguido, e que o espaço está aberto para questionamentos, mas não para atropelar autoritariamente o que todos democraticamente decidiram.

3- A ASSEMBLEIA É SIM LUGAR DE DISCUTIR POLÍTICA

Talvez alguns companheiros que chegam na militância agora não tenham a real noção do que esta afirmação significa, se considerada na sua repercussão histórica. Consideremos, por exemplo, a própria construção histórica do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação, o SEPE. A luta pela construção deste sindicato remonta às tentativas de controle político do governo Vargas. Criado em 1977 (ainda sobre o nome de SEP), em plena ditadura militar, a trajetória da construção deste sindicato passa por perseguição política, companheiros torturados e mortos, construção de ideologias de oposição… Ou seja, é uma trajetória essencialmente política. Ora, o sindicato é justamente a instância em que o trabalhador se coloca em coletividade para ter força suficiente para lutar contra um governo QUE É POLÍTICO, que tem bases partidárias e que tem ideologias próprias. Porque então o sindicato, ou o movimento não o teriam? Como conseguir lutar contra as políticas governistas sem discutir política? É preciso que a categoria entenda e compreenda, de forma profunda, que quando o governo Aluízio/Lúcia Thomaz negam todos os pontos da nossa pauta de reivindicações, não o fazem por eles, mas porque a atitude acintosa deste governo faz parte de um contexto dentro de uma política maior, que se interliga a ações políticas também orquestradas pelo governo Cabral-Pezão/Risolia, e que por sua vez se interligam a ações do governo Dilma. Ou seja, a política educacional macaense está diretamente relacionada com as políticas estadual e federal, da aliança PT/PMDB.
Portanto, se queremos questionar o que acontece em Macaé, temos que considerar questões partidárias e políticos, filiações partidárias de apoio e de crítica ao governo dentro do sindicato e fora dele.
Para amadurecer como movimento é necessário que a categoria entenda que, assim, a assembleia é um espaço político, de discussão política sim! E que só assim é que andaremos pra frente: quando entendermos que o movimento é plural, com amplo direito a discussão política e com companheiros que defendem diferentes bandeiras. É de suma importância que defendamos e incentivemos esta discussão, sob pena de nos transformarmos em um movimento burocrático, que esquece as transformações estruturais para a educação, as que realmente transformam.

4- PENSAR ESTRATEGICAMENTE É FUNÇÃO DE TODOS

Quando estas falhas ficaram evidentes na manifestação, alguns companheiros tomaram o microfone para defender que o SEPE não havia elaborado uma estratégia para o dia. E é verdade. Faltou planejamento estratégico e esta é uma questão que o sindicato precisa urgentemente sanar, já para a próxima manifestação. É necessário que a direção convoque as lideranças e as vanguardas do movimento para discutir as ações conjunturais e estruturais do movimento, algo que ainda não foi feito. Porém, é tão necessário que a categoria entenda que esta não é uma função exclusiva do SEPE. Que pensar estrategicamente é um dever de todos do movimento. Ao nos dividirmos e brigarmos na frente da prefeitura, justo o lugar que deveríamos estar coesos e nos defender a todo custo, demonstramos para o governo nossa fragilidade ao racharmos o movimento, racha este inclusive promovido pela companheira governista do sindicato. Ao racharmos estamos negando a estratégia. Ao nos negarmos a acatar o que o coletivo decidiu estamos negando a estratégia. Ao atropelarmos as falas estamos negando a estratégia. Ao agirmos impulsivamente estamos negando a estratégia!
Enfim, é extremamente necessário que todos entendam que estratégia está diretamente ligada a coesão. E que no caso de um movimento como o nosso, ela é definida com a coletividade. A maior estratégia, portanto, é o respeito ao coletivo. Isto é, também, amadurecer o movimento.

5- SOMOS UM SÓ

Para concluir, advém de todas as observações acima que só somos fortes se somos um só. Isto não que dizer, de forma alguma, que devemos excluir as diferenças políticas do movimento (como já dito), mas efetivamente o contrário: entendê-las e respeitá-las em favor de uma unidade.
E o que será isto que nos une? Somos todos educadores e cada um a seu jeito quer o mesmo: uma educação melhor para Macaé. Para isto que nos unimos. Porque sozinhos somos um grito, juntos somos um brado. Juntos todos temos mais força, juntos somos gigantes. E só assim que podemos derrotar este governo que quer sucatear a educação macaense.

***
Companheiros, peço desculpas pelo longo texto. Mas espero que com ele possa contribuir para as discussões sobre o nosso movimento e sobre a construção da Greve que a categoria anseia; para que este movimento se fortaleça; e para que juntos, sempre juntos, possamos crescer e amadurecer.
Não devemos esmorecer agora. O governo contra-atacará. E devemos continuar juntos, rumo a Greve!
A todos, força e luta sempre!
Prof. Daniel Carvalho, em 22 de maio de 2014

Fonte: http://professoresdemacae.wordpress.com/  

Nenhum comentário:

Postar um comentário